Herberto-Helder Citas
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Herberto-Helder Citas, pensamientos, aforismos, refranes, declaraciones
#19994 Herberto-Helder
O ofuscante poder da escrita é que ela possui uma capacidade de persuasão e violentação de que a coisa real se encontra subtraída. O talento de saber tornar verdadeira a verdade.Photomaton & Vox
#19995 Herberto-Helder
Nunca se sabe aquilo que basta. Talvez baste um poema, uma coisa mínima, viva, nossa, uma coisa sub-reptícia para empunhar diante do implacável acordo das formas exteriores. Também pode ser que nada baste. E nesse caso tanto faz escrever um romance ou cem poemas ou apenas um poema, ou ler ou emendar o céu astronómico ou manter-se parado no meio de um jardim húmido e silencioso, à noite. Até pode suceder que a morte não seja bastante.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#19996 Herberto-Helder
Escreve-se um poema devido à suspeita de que enquanto o escrevemos algo vai acontecer, uma coisa formidável, algo que nos transformará, que transformará tudo.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#19997 Herberto-Helder
O prestígio é uma armadilha dos nossos semelhantes. Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo. Deve-se estar disponível para decepcionar os que confiaram em nós. Decepcionar é garantir o movimento. A confiança dos outros diz-lhes respeito. A nós mesmos diz respeito outra espécie de confiança. A de que somos insubstituíveis na nossa aventura e de que ninguém a fará por nós. De que ela se fará à margem da confiança alheia.Jornal de Letras e Artes, 17 Maio 1964
#19998 Herberto-Helder
É obrigatório dizê-lo: pouca gente tem ouvidos puros. Ou mãos limpas. Ler um poema é poder fazê-lo, refazê-lo: eis o espelho, o mágico objecto do reconhecimento, o objecto activo de criação do rosto. O eco visual se quanto a rostos fosse apenas tê-los fora e ver.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#19999 Herberto-Helder
A paixão é a moral da poesia: arrisquem a cabeça se querem entender; arrisquem o corpo, a sua medida, se pretendem descobrir o centro do corpo; e sim, arrisquem sobretudo o nome pessoal para ouvirem o nome de baptismo como o coroado nome da terra.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20000 Herberto-Helder
Escreva-se sempre para estar só. A escrita afasta concretamente o mundo. Não é o melhor método, mas é um.Photomaton & Vox
#20001 Herberto-Helder
Todos os poemas são canções de eco, procuram ser confirmados. De que sítio se lança a voz, que género de confirmação se pretende? A confirmação, sempre, do poema a si mesmo e em si mesmo.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20002 Herberto-Helder
Existem romances imperdoáveis, quase todos os romances contemporâneos são imperdoáveis. Como é imperdoável a maioria dos poemas portugueses deste século. A bem dizer não há nada.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20003 Herberto-Helder
Durante a vida inteira brandi em todas as direcções o mesmo aparelho, a mesma arma furiosa. Fui um inocente, porque só se consegue isso com inocência.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20004 Herberto-Helder
O prestígio da poesia é menos ela não acabar nunca do que propriamente começar. É um início perene, nunca uma chegada seja ao que for.Servidões
#20005 Herberto-Helder
Quanto ao mundo, o poema espera tudo dele menos o equívoco, embora seja o equívoco aquilo que se encontra mais à mão deste mundo.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20006 Herberto-Helder
Não é possível criticar-se um livro de poesia experimental com os instrumentos aplicáveis à poesia convencional.Jornal de Letras e Artes, 17 Maio 1964
#20007 Herberto-Helder
A crítica? Bem vê: nas circunstâncias em que me encontro, a crítica não me poderia ajudar. Ela de resto nunca ajuda um autor. Tende afazer de mediadora entre uma linguagem e um entendimento. Ajudará o leitor.Jornal de Letras e Artes, 17 Maio 1964
#20008 Herberto-Helder
A formação da linguagem é um paciente, extenso, doloroso e, muitas vezes, desesperante caminho. O erro aparece como uma constante, mas existe a possibilidade de ser sempre menor. Entre um grau máximo e um grau mínimo de erro, situa-se a evolução.Jornal de Letras e Artes, 17 Maio 1964
#20009 Herberto-Helder
Não me parece necessário referir a crise das classificações literárias. Caminha-se, sabemo-lo todos, para uma visão total da obra literária que se não podem adoptar distinções afinal nunca rigorosas, senão de um ponto de vista didáctico.Jornal de Letras e Artes, 17 Maio 1964
#20010 Herberto-Helder
Há quem diga: não escrevo para os outros, ou: o interlocutor é inlocalizável. Os críticos respondem quase sempre à pergunta que não está ali para qualquer resposta.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20011 Herberto-Helder
Leio romances desde que perceba que não estão a responder. Alguns são extraordinárias máquinas interrogativas: "Ulisses", "Filhos e Amantes", "O Doutor Fausto", "O Processo", "A Morte de Virgílio","O Som e a Fúria","Debaixo do Vulcão", "A Obra ao Negro", "Lolita"...Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20012 Herberto-Helder
Não existe prosa. A menos que se refiram os escritos, em prosa ou verso, que pretendem ensinar. Não há nada a ensinar embora haja tudo a aprender. Aquilo que se aprende vem do nosso próprio ensino, vem da pergunta.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
#20013 Herberto-Helder
Quanto à psicanálise, eis a doutrina por excelência corruptora da sacralidade: o modo pior de fazer perguntas; são perguntas destinadas a obter respostas.Jornal Público, 4 Dezembro 1990
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